Quantidade
— De uma família de ilustres cientistas na Hungria, o químico Michael Polanyi (1891-1976) experimentou em primeira mão os horrores do totalitarismo e das duas guerras mundiais (serviu como médico do exército austro-húngaro na primeira), o que determinou em parte a sua contestação a qualquer modelo social centralizado e planificado de maneira supostamente científica. O interesse de Polanyi pela vida política na Europa se intensificou nos anos 30, quando a civilização tremia ante as ameaças do futuro, e se consolidou nos anos 40, quando os europeus passaram a olhar melancolicamente para o passado. Os ensaios reunidos em A lógica da liberdade (1951) representam os esforços renovados do autor “para esclarecer a posição da liberdade em resposta a diversas questões levantadas por nosso conturbado período da História”. Polanyi combatia a visão instrumentalista e pragmática da ciência então em voga, por acreditar que ela ameaçava a liberdade pública e perdia de vista os mistérios da existência. Essa relação entre a ciência e liberdade, entre a ideologia e a pesquisa, é o ponto de partida dessa obra e da correspondência que Polanyi manteve com economistas e intelectuais como F. A. Hayek, John Maynard Keynes e T. S. Eliot. Introdução: Stuart D. Warner. Tradução: Joubert de Oliveira Brízida.
— Jacob Burckhardt (1818-1897) considerava a beleza e a liberdade os dois valores fundamentais da existência humana, e a tentativa de estabelecer um vínculo entre eles está presente em toda a sua obra, sejam os textos teóricos sobre a História da Arte, sejam as cartas escritas ao longo de quase 60 anos, que refletem uma impressionante coesão de pensamento. Defensor da moderação, esse historiador suíço de expressão alemã era pessimista em relação aos grandes fenômenos sociais de seu século: a democracia de massa, o igualitarismo e o culto do crescimento econômico e do progresso. Filia-se, nesse sentido, à tradição de liberalismo aristocrático de Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e Ortega y Gasset. Endereçadas a alguns dos mais importantes pensadores da sua época, entre eles Friedrich Nietzsche, estas Cartas tratam com entusiasmo de temas que mobilizavam os debates intelectuais nas mais diversas áreas: arte, arquitetura, história, poesia, música, religião. Burckhardt fez do indivíduo o centro de suas investigações: para ele, grandes personalidades podem alterar o rumo de épocas inteiras. Ao mesmo tempo, acreditava que as culturas amadurecem e entram em declínio como tudo na natureza. Daí a descrença no progresso histórico, na contracorrente do otimismo que prevalecia na época, e a rejeição ao sistema hegeliano, segundo o qual a História expressa a realização de um espírito absoluto. Sua defesa das verdadeiras e vigorosas raízes espirituais da liberdade e seu elogio da beleza continuam na ordem do dia. Seleção e edição: Alexander Dru.Introdução à edição brasileira: Luiz Costa Lima. Tradução: Renato Rezende
INDISPONÍVEL
— Quando Democracia e Liderança foi publicado em 1924, o crítico Herbert Read afirmou, com justiça, que a motivação de Irving Babbitt (1865-1933) era “o restabelecimento de padrões humanistas no lugar das confusões utilitárias humanitárias ou românticas”, então muito em voga. O livro tornou-se um marco do pensamento político moderno, o mais representativo do pensador da cultura e ensaísta americano, que não deixou uma obra extensa porque gastou grande parte da sua vida em controvérsias públicas, contestando os valores e convicções mais arraigados nos meios acadêmicos de sua época e atacando filósofos como Rousseau, Francis Bacon, Karl Marx e John Dewey. Babbitt nunca hesitou em remar contra a corrente dos movimentos intelectuais de seu tempo, submetendo a exame crítico implacável todas as convicções morais e estéticas de seus contemporâneos. Combateu o marxismo, o freudismo, o instrumentalismo e o naturalismo. Desdenhava o sucesso fácil e a popularidade. Já na estética, opôs-se violentamente às diversas doutrinas que defendiam a arte pela arte, afirmando o propósito moral e a dimensão ética da experiência artística. Como teórico da educação, combateu com fervor a decadência da universidade americana. Seu diagnóstico da erosão dos padrões éticos e culturais da América e sua defesa do autodomínio moral contra o culto à despreocupação são temas que permanecem atuais. Prefácio: Russell Kirk. Tradução: Joubert de Oliveira Brízida
– Na opinião de Evaldo Cabral de Mello, Croce "é o pensador moderno que reatualizou a lição de um dos pais fundadores da filosofia da história, Giambattista Vico"; e, para Otto Maria Carpeaux, esta obra – que a Topbooks lança pela primeira vez em língua portuguesa, numa parceria com o Liberty Fund – "é talvez o mais belo entre muitos livros belos do grande filósofo, historiador e crítico". Segundo Wilson Martins, Croce dizia que 'história como história da liberdade' era expressão muito usada, mesmo por pensadores ilustres, sem no entanto ser inteiramente compreendida: "Sob esta expressão não se trata do nascimento, crescimento e maturidade definitiva da liberdade, porque a história da liberdade é um processo em permanente desenvolvimento, sem começo nem fim. Vivendo sob um regime fascista – do qual, aliás, foi o opositor mais eminente – Croce sabia do que estava falando", completa Martins. “A história”, escreve Croce neste livro, “não é um idílio nem tampouco uma tragédia. É um drama no qual todas as atividades, todos os personagens, todos os ‘componentes do coro’, no sentido aristotélico, são influenciados pelo bem e pelo mal. (...) Esse drama é a obra da liberdade, que está se esforçando para restabelecer as condições sociais e políticas para se tornar mais intensa”. Tradução de Julio Castañon Guimarães.
— Importante teórico do consentimento, do contrato, do federalismo e do corporativismo, o alemão Althusius (1557-1638) conciliou idéias bíblicas, aristotélicas e neocalvinistas em um original sistema político, baseado em princípios das leis natural e contratual. A recuperação de seu pensamento se deve, sobretudo, a dois aspectos, sintetizados na Política: sua filosofia do direito e seu federalismo. Apesar da moldura teológica, fundada na religião calvinista, trata-se do primeiro livro a apresentar uma teoria abrangente do federalismo republicano, enraizada no conceito de associação simbiótica e na idéia do consenso. Pensador seminal, Althusius foi resgatado por teóricos alemães que, no século XIX, lutaram pela unificação da Alemanha segundo princípios federativos. Seu pensamento também foi assimilado pelos americanos, que construíram o federalismo moderno com base no individualismo e reintroduziram a idéia do Estado como associação política, mais que como instituição reificada. No século XX, a importância do autor foi observada pelo teórico liberal alemão Carl Friedrich, que em 1932 relançou a edição de 1614 da Política acrescentando elucidativo prefácio sobre a vida e a obra do autor. Hoje, quando os cientistas sociais se preocupam em investigar o problema da liberdade em relação com a família, as comunidades étnicas e outras formas de associação, as idéias de Althusius sobre o constitucionalismo e a regulação filosófica dos processos políticos voltam a ganhar atualidade. Edição, tradução (para o inglês) e introdução de Frederick S. Carney. Prefácio: Daniel J. Elazar. Tradução: Joubert de Oliveira Brízida
— Para Michael Oakeshott (1901-1990), o desafio específico dos historiadores é deixar de lado quaisquer preocupações de ordem prática ou ideológica em sua abordagem do passado, pois uma das maiores ilusões do ser humano é a crença em sistemas que nos levarão à perfeição final numa terra prometida. Desafio extremamente difícil, porque geralmente nosso interesse predominante não está na História em si, mas na política retrospectiva, e temos a tendência a transformar sistemas filosóficos em evangelhos. Sobre a História (1983) reúne cinco ensaios do pensador inglês que abordam temas centrais da ciência política, como a natureza da História, o primado da lei e a luta pelo poder inerente à condição humana. Oakeshott se destaca entre os filósofos políticos modernos por ter levado até os limites do entendimento humano suas dúvidas quanto aos fundamentos racionais. É um equívoco, porém, classificá-lo como cético; ao contrário, sua compreensão da liberdade decorre do fato de acreditar que não estamos condenados a “obter e gastar” — à “dança macabra das necessidades e satisfações” — e que existem diferentes maneiras de respondermos ao mundo. A original abordagem histórica deste pensador inglês foi forjada pela leitura de Sócrates, Santo Agostinho, Montaigne e Hobbes, mas ele não entendia os clássicos como repositórios de conhecimentos e lições de uso prático, e sim como introduções a modos de pensar. Introdução: Timothy Fuller. Introdução à edição brasileira: Evaldo Cabral de Mello. Tradução: Renato Rezende
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