POLÊMICO CRIADOR DO HUMANISMO AMERICANO
Luciano Trigo
Democracia e liderança , de Irving
Babbitt. Tradução de Joubert Brízida
Depois de uma vida de infatigável e, por muitos
anos, quase solitária luta, Irving Babbitt granjeou para seus pontos
de vista, se não a concordância, pelo menos vasto reconhecimento”.
As palavras de T.S. Eliot refletem a natureza controversa do pensamento
de Babbitt nos círculos intelectuais. Mal compreendido e atacado,
Babbitt sobreviveu à maioria de seus críticos e é hoje considerado
um dos mais refinados pensadores da cultura americana, ainda que
a sua defesa da tradição ainda seja classificada de reacionária.
Sua contribuição à teoria do conhecimento e à estética é comparada
à de Benedetto Croce. Como teórico da educação, foi um crítico feroz
da decadência do ensino universitário. Já na estética, opôs-se às
diversas doutrinas que defendiam a arte pela arte, afirmando o propósito
moral da experiência artística.
Babbitt não deixou uma obra muito extensa porque
passou boa parte do seu tempo em debates em que contestava, de forma
pouco diplomática, os valores e convicções mais arraigados de sua
época. Criticou filósofos como Rousseau, Bacon, Marx e John Dewey,
e sua vocação para a polêmica lhe valeu muitos inimigos. Um dos
criadores do chamado Humanismo Americano, Irving Babbitt (1865-1933),
em “Democracia e Liderança” — que reúne conferências feitas nos
anos 20 — analisa a ordem social civil a partir da oposição entre
humanismo e humanitarismo.
Rejeita todas as filosofias deterministas da
História, desde as encontradas nas obras de Santo Agostinho e Bossuet,
que reduziam o homem a uma marionete de Deus, até suas variantes
modernas, que afirmam o primado de leis naturais ou econômicas.
Critica, também, todos os sistemas baseados no igualitarismo, por
sua excessiva benevolência. Como nunca hesitou em remar contra a
corrente dos movimentos intelectuais de seu tempo, submetendo a
um exame crítico as convicções morais e estéticas de seus contemporâneos,
tendo sido acusado de racismo por conta de seus comentários sobre
a imigração descontrolada, é perfeitamente compreensível a fúria
com que escritores como Hemingway, Edmund Wilson, H.L. Mencken e
Sinclair Lewis se lançaram contra ele.
Caderno Prosa & Verso
O GLOBO
Rio de Janeiro
01/11/2003
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