AVERSÃO TOTAL A SISTEMAS PLANIFICADOS
Luciano Trigo
A lógica da liberdade , Michael Polanyi.
Tradução de Joubert Brízida.
Para Michael Polanyi, as ordens sociais mais
eficazes para o bem-estar dos homens não são fruto de planejamento,
mas, sim, resultado espontâneo da interação entre os indivíduos.
Não é surpreendente, portanto, que os textos de “A lógica da liberdade”
contenham críticas aos sistemas hostis à liberdade pública, já que
representariam uma ameaça à chamada sociedade livre.
Químico respeitado, Polanyi (1891-1976) viveu
os horrores do totalitarismo e das duas guerras, experiência que
determinou a sua aversão a qualquer modelo social planificado de
maneira supostamente científica. Filho de um engenheiro húngaro
com uma jornalista russa, Polanyi viu a fortuna de sua família se
dissipar na Primeira Guerra. Depois de trabalhar em Berlim nos anos
20, mudou-se para a Inglaterra em 1933, fugindo do governo de Hitler,
para assumir uma cátedra em Manchester. Aos poucos, trocou a química
pela filosofia da ciência, pela economia e pela teoria social, e
esta mudança de foco se reflete nos seus interlocutores, que, no
lugar de cientistas, passaram a ser economistas, escritores e filósofos,
como Keynes, Hayek e T.S. Eliot.
O interesse de Polanyi pela vida política na
Europa aumentou nos anos 30 e 40. Em 1938, participou, ao lado de
Raymond Aron, Hayek e Ludwig von Mises, da sociedade de intelectuais
criada por Walter Lippmann para restabelecer os ideais do liberalismo
clássico. Na Segunda Guerra, Polanyi, que era judeu, perdeu contato
com seus familiares, mas conseguiu levar seus quatro irmãos para
a Inglaterra. Foi nesse período que suas idéias filosóficas tomaram
forma, e que escreveu a maioria dos ensaios reunidos em “A lógica
da liberdade” (1951), obra que sintetiza o esforço do autor “para
esclarecer a posição da liberdade em resposta a diversas questões
levantadas por nosso conturbado período da História”.
“A lógica da liberdade” desenvolve conceitos
já apresentados em “O desprezo da liberdade” (1940), no qual Polanyi
faz uma crítica radical dos regimes totalitários, e em “Ciência,
fé e sociedade” (1945), sua primeira obra filosófica. O ex-químico
acreditava nas realidades transcendentes da verdade, da justiça,
da caridade e da tolerância.
Caderno Prosa & Verso
O GLOBO
Rio de Janeiro
01/11/2003
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