A MESMA COISA
Heitor Ferraz Mello
“A Mesma Coisa” é o quinto
livro de poemas do carioca Felipe Fortuna. No volume, ele reúne
três poemas: “A Mesma Coisa”, “O Suicida”
e “Contra a Poesia”. No entanto, o leitor percebe, ao
fim e ao cabo da leitura, que se trata de um só e mesmo poema,
girando obsessivamente em torno de um mesmo tema: a luta de morte
entre o autêntico e a cópia, luta que também
poderia ser designada por o “eu” e o “outro”.
Num mundo em que a reprodução domina
e anula as identidades e, de certa maneira, a tudo transforma numa
só e mesma coisa, o poeta busca, em seus versos, uma reflexão
vertiginosa sobre essa dualidade que o cinde e que, ao mesmo tempo,
o une, mas numa frágil (e mortal) unidade.
“Na rua sem saída / só resta
a imitação: assim, / eu sou também esta alma
gêmea / e corro atracado / em luta corporal”. Essas
dualidades, expostas num tipo de ‘verso giratório’
(como ele mesmo diz em “Contra a Poesia”), também
atingem o coração da própria poesia, onde a
citação de outros poetas, com e sem disfarces, com
e sem itálicos, entra como matéria formal de composição.
Nessa tensão angustiante, o poeta vê uma espécie
de redenção na própria escrita, onde seu “duo
pseudo assume a cena”, podendo ao mesmo tempo ser e não
ser.
caderno Guia
FOLHA DE S.PAULO
24/05/2013
Leia mais:
A
mesma coisa (revista Sibila)
Livro
de Felipe Fortuna consegue chegar à pedra filosofal
Em
defesa da poesia
A
ânsia de ser o mesmo sendo outro diferente
Reflexão
inquieta e crítica
Poemas
inquietos
A
poesia pensante de Felipe Fortuna
|