DIPLOMATA REALIZA INCURSÃO PELA FICÇÃO
Clóvis Rossi
É verdade que há diplomatas brasileiros com uma
extraordinária competência literária, mas é igualmente verdade que
o usual, nessa carreira, é lidar com assuntos áridos, quase incompreensíveis
para o mortal comum.
Por isso, sempre surpreende quando um diplomata
de carreira, já longa aliás, aparece com um livro de ficção como
"A Sombra do Meio-Dia", que Sérgio Danese está lançando, "sem festas
nem foguetório", como ele próprio diz.
A tradição de Danese é de outra natureza: foi,
por exemplo, porta-voz do embaixador Rubens Ricupero, tanto no Ministério
do Meio-Ambiente como no Ministério da Economia, sempre no governo
Itamar Franco.
Desnecessário dizer que lidou, em ambas as áreas,
com assuntos que podem ter mil sombras, mas passam longe da ficção.
Depois, foi porta-voz também de Luiz Felipe Lampreia, no próprio
Itamaraty, em pleno período de negociações comerciais carregadas
de interesses bem concretos e, portanto, opostas à ficção.
É desse período outro livro de Danese ("Diplomacia
Presidencial"), inicialmente concebido como tese para o Curso de
Altos Estudos do Instituto Rio Branco, o que forma os diplomatas.
É indispensável para quem quer entender a diplomacia
moderna, caracterizada por forte ação pessoal dos chefes de governo.
Danese, 48 anos, 22 dos quais no Itamaraty, está
agora na embaixada do Brasil em Buenos Aires, o que talvez ajude
a entender o mergulho na ficção: boa parte do que aconteceu na Argentina,
antes e durante o período em que Danese serviu no país, parece mais
ficção que realidade.
Em todo caso, não foi a Argentina, mas o Brasil
que inspirou o livro. "Acertou a mão", diz dele Alfredo Bosi, com
a autoridade de quem é o mais recente escolhido para fazer parte
da Academia Brasileira de Letras.
Livro/lançamento
FOLHA ILUSTRADA
São Paulo
18/10/2003
|