HISTÓRIAS DE POETA
Aos 80 anos, Lêdo Ivo ganha exposição
sobre sua vida na ABL e celebra três livros lançados
Simone Goldberg
Lêdo Ivo, de 80 anos, é um poeta
e escritor consagrado pela crítica. É também
dono de fina ironia e de grande senso de humor. Em meio à
entrevista, reclama por ser chamado ao telefone. "Interromperam
meu fluxo verbal", e ri, às gargalhadas, antes de atender.
Se foram ouvidas por quem o esperava do outro lado da linha, não
se sabe. Lêdo Ivo vive um momento especial. Está deliciado
com as homenagens que o ajudam a superar a perda da mulher, Lêda,
em março. A Academia Brasileira de Letras abriu, no Rio,
na quinta?feira 30, uma exposição sobre a vida e a
obra desse alagoano, membro da casa, que aos 14 anos publicou seu
primeiro poema. No mesmo dia, a Topbooks lançou Poesia
Completa, um dos três livros do autor publicados pela
editora em 2004. Os outros foram Confissões de um Poeta
e Plenilúnio.
"Hoje, o poeta é quase um clandestino.
Quando cheguei ao Rio, em 1943, éramos os protagonistas da
literatura", diz Ivo. Não mais. A sociedade se tornou
escrava da imagem. É preciso ser celebridade para ser reconhecido
e vice-versa. "É um círculo maluco. Não
sou hipócrita. Estou muito feliz com essa atenção
toda". Ivo foi considerado por João Cabral de Melo Neto
o maior poeta da geração de 45. "O Sérgio
Buarque de Holanda dizia que essa geração tinha poetas
de nome comprido e verso curto, como João Cabral de Melo
Neto, Péricles Eugênio da Silva Ramos, e um de nome
curto e versos longos, Lêdo Ivo, eu".
O verso longo, reconhece o poeta, é sua
característica. "Lêdo é mordaz e ferino.
Concilia lirismo e sarcasmo, e seus excessos são contidos",
observa o presidente da ABL, Ivan Junqueira. Ivo mora em Botafogo,
zona sul do Rio. Aposentado como jornalista, ocupa?se com leituras,
música, familiares e as sessões da ABL. Aos sábados,
vai para o sítio em Teresópolis, onde encontra amigos
como Marina Buarque de Holanda, viúva de Aurélio.
"Ele conta boas histórias da vida literária brasileira.
O problema do sítio é a cachorrada", diverte?se
Marina. Os 18 companheiros quadrúpedes do poeta vivem bem.
"Eu os sustento com o jetom da academia".
Sua temática é marcada por recordações
pessoais. "Os poetas de 45 eram muito cerebrais, Ivo é
lírico e espontâneo", analisa o crítico
Wilson Martins. Ivo conviveu com os maiores nomes da literatura,
como Manuel Bandeira, Aurélio Buarque de Holanda e Graciliano
Ramos, entre outros. "Lembro de Graciliano na minha escola
em Maceió. Ele passou a mão na minha cabeça.
Foi o meu batismo literário."
Revista ÉPOCA
04/10/2004 |