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O MENINO QUE COMIA FOIE GRAS

Hudson Carvalho nasceu em 1956 em Macaé, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, que deixou 16 anos depois. Formou-se em Jornalismo pela UFRJ, e trabalhou na Rádio Jornal do Brasil, nos jornais O Globo, Tribuna da Imprensa e Jornal do Brasil, nas revistas Isto É e Veja e nas TVs Globo e Educativa, onde executou diversas funções: repórter, pauteiro, colunista, editor-assistente e editor.

Na maior parte de sua vivência em redação, trabalhou na cobertura política. Escreveu ainda cerca de duas centenas de artigos para a revista Enfoque e para os jornais Última Hora, Jornal do Commercio, Gazeta Mercantil, Brasil Econômico, Correio Braziliense, O Dia, Jornal do Brasil e O Globo. Participou também de programas na TV Educativa como comentarista político. Até personificar Pedro Henriques, nunca escrevera sobre gastronomia.

A coluna gastronômica em O Globo resultou de pura acidentalidade. Em 2015, numa conversa casual com o jornalista Ascânio Seleme – então diretor de redação do jornal – este perguntou se Hudson não sentia falta do dia a dia da imprensa. O autor desse livro respondeu, honestamente, que não, e brincou: “Só voltaria se fosse para escrever sobre gastronomia, o que nunca fiz, e sob pseudônimo”. Seleme então o surpreendeu, pedindo que lhe enviasse dois artigos para avaliação. Depois disso, Pedro Henriques ganhou vida durante dois anos, primeiro no “Caderno Gourmet”, e depois (a partir de maio de 2017) na revista dominical “Ela”.

Desde o início, o colunista privilegiou tratar a gastronomia por suas variantes conceituais, e não através do escrutínio de restaurantes, função já desempenhada, no jornal, pela talentosa Luciana Fróes. Os restaurantes, geralmente, serviam apenas de pano de fundo para suas impressões sobre o tema. Segundo ele, “há muito deslumbramento, modismos e mitificações no universo opsofágico. Nem toda a espuma vale a pena. Nem todo o rebelde tatuado é excelente chef. Na cozinha, o fundamental é a excelência dos produtos, e, no Brasil, ainda carecemos de muitas matérias-primas de qualidade, embora tenhamos melhorado enormemente. Isso limita o nosso potencial frente a outros centros internacionais, a despeito do esforço, do cosmopolitismo e da aptidão de diversos chefs pátrios”.

Hudson Carvalho conta ainda que a gastronomia animava-o também por ser vetor de congraçamento e de harmonia, “e não fomentadora de crispações, já tão onipresentes nesse colérico planeta digital. É óbvio que a culinária abriga também escolas e tendências divergentes, mas elas não se sobrepõem à essência gregária que permeia esse ambiente”, diz. “Ninguém senta à mesa para brigar; comidas e bebidas estimulam a confraternização. A gastronomia talvez seja, hoje, uma das poucas áreas onde o espírito de generosidade ainda reside e prevalece”, completa Hudson.

No prefácio, o poeta e filósofo Antonio Cicero – parceiro musical da irmã, a cantora e compositora Marina Lima – conta que, embora muito amigo de Hudson, não sabia que ele e Pedro Henriques eram a mesma pessoa; mas não perdia suas crônicas. “Tornei-me leitor assíduo e admirador do crítico gastronômico Pedro Henriques desde que li seus primeiros artigos (...). Há muita coisa impressionante nos seus textos. Desde logo, a desenvoltura de seu estilo e a precisão de seu vocabulário no que diz respeito a comes e bebes são animadores, pois manifestam a segurança com que desempenha seu métier”, escreve Cicero, também membro da Academia Brasileira de Letras.
               
Veja aqui algumas frases do autor:

“Restaurantes comprovadamente fabulosos são aqueles que atravessam o artificialismo das modas e permanecem reverenciados com o correr dos tempos”.

“A excelência dos ingredientes é a principal razão de equilíbrio ou desequilíbrio de uma refeição”.

“Quanto mais caro e maior se vende um santuário gastronômico, mais escrupulosas devem ser as exigências sobre ele”.

“Há muitos modismos ilusórios e perecíveis. Felizmente, a realidade e a concorrência se incumbem dos inconscientes”.

“Não se iluda; pode-se comer mal em qualquer restaurante do mundo, até naqueles considerados excepcionais. Nestes, é bastante raro, mas acontece”.

 

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