"TRILOGIA DO CONTROLE",
de Luiz Costa Lima
Odo Castorp
A TRILOGIA DO CONTROLE reúne pela primeira
vez o que até agora estivera separado. Os livros que a compõem
foram publicados em 1984, 1986, 1988. A regularidade de seu intervalo
poderia dar a entender que teriam sido fruto de um planejamento
bem calculado. Até o momento, como seu leitor, assim o pensei.
Para fazer essa apresentação, achei por bem ouvir
o autor. Ele sorriu, agradeceu, e me respondeu que não era
verdade. O controle do imaginário nasceu, afirmava,
de um repente intuitivo, e seu propósito inicial concentrava-se
na literatura brasileira, só deixando de sê-lo porque
a leitura das teorias poéticas do Renascimento o obrigou
a reconhecer que o problema já era europeu. Por fim, foi
ajudado por um acaso positivo: tendo sido publicado quando o autor
já prestara concurso para professor na University of Minnesota,
seu acesso ao acervo da Biblioteca Central o obrigou a verificar
o quanto O controle apenas tocara em um filão que
mal explorara.
Tratou então de testar o que intuitivamente
havia sido configurado. Duas provas confirmam o que diz. No prefácio
à segunda edição de O controle, aqui
reproduzido, Hans Ulrich Gumbrecht procurava justificar o que lhe
terá parecido estranho: não haver nenhuma explicação
para o termo ‘controle’, tampouco para a expressão
‘controle do imaginário’. Acrescenta-me o interlocutor
(quero dizer, o autor): era gentileza de um amigo. A ausência
era apenas ausência; como costuma suceder, as intuições
repentinas, parecendo prescindir de maiores explicações,
são enganosas. Assim ocorrera com ele!
Já a segunda prova só poderá
ser feita por quem se disponha a comparar o índice da Trilogia
com os livros originalmente editados em 1986 e 1988. Por esses,
verificará que não tinham uma direção
precisa. O controle era testado nas mais diferentes frentes
– a propósito do século XVIII francês,
da América Hispânica, do pensamento crítico
contemporâneo, de autores como J. L. Borges ou analistas como
E. Auerbach. Essa balbúrdia de caminhos diversos dizia da
ansiedade de enfrentar o desafio: como tais períodos, correntes
de pensamento ou autores reagiriam à pergunta sobre se, de
fato, houvera um controle exercido sobre as obras por excelência
do imaginário, as obras literárias?
Ora, aberta a possibilidade de unificar todo
o trabalho, pareceu-lhe um exagero à fidelidade histórica
repetir aquele caos. Daí desaparecerem capítulos,
eliminarem-se seções, reescreverem-se ou se introduzirem
novos parágrafos, e ordenarem-se os livros de 1986 e 1988.
Considerei, então, terem sido dois os capítulos excluídos:
do primeiro, sobre Euclides da Cunha, presente no Controle, a eliminação
era facilmente explicável: com Terra ignota – A
construção de "Os Sertões" (1997),
Costa Lima refinara sua tese inicial. A reedição da
hipótese ultrapassada não teria sentido. Mas como
se explicaria a retirada de “A crítica e o controle”,
último capítulo do livro de 1988? Por sua posição,
este não pareceria um fecho de todo o percurso? O autor me
responde que sim e que, por isso mesmo, o excluiu. Confessei-lhe
que não havia entendido, e não recebi resposta alguma.
Devo, portanto, entender que ele pretende ainda retomar o tema?
Pode parecer estranho dizê-lo aqui, mas sou ao menos sincero.
Opto, assim, por voltar à organização
que agora recebem os livros de 1986 e 1988. Aquele, Sociedade
e discurso ficcional, recebe os capítulos dedicados à
viagem ao Novo Mundo, passando pela sociedade e cultura latino-americanas,
vindo daí a questões teóricas; este, O fingidor
e o censor, os dedicados ao Iluminismo francês, com destaque
para Diderot, passando a Auerbach, a Borges, e à discussão
do conceito de mímesis. Não duvido que a obra ganha
em clareza de disposição. Mas reconheço que
passa a dar uma falsa impressão “olímpica”.
|