O CATADOR DE PALAVRAS
Antonio Ventura sempre foi um poeta diferenciado,
desde o início, quando já na adolescência escrevia
versos fortíssimos, uma poesia marcante, de asfixia, aquela
poesia que vem de dentro do homem, onde o homem deixa residir sua
vida, equivale dizer, seu poema mais verdadeiro.
Este é um belo livro de poesia, de poemas
e de narrativas poéticas. Como se nos dissesse sempre, como
escreveu no belíssimo “Divino Narciso”, ilustrado
com a tela de Caravaggio: “Eu queria escrever uma história
infantil/ como a minha história infantil a história
da criança louca/.../”. Um poema comovente: “O
que eu sou agora é não ter saído de casa/ mas
ter ficado em casa escrevendo um poema eterno/.../”.
O catador de palavras é, no fundo,
um testemunho de vida, aquilo que a vida nos oferece ao seu tempo,
quando ao passar dos anos vem desenhando nossa face num espelho
que se quebra. Esta é a poesia de um poeta que compreende
a grandeza da poesia e faz da poesia sua própria história.
Álvaro Alves de Faria
O catador de palavras, de Antonio
Ventura, apresenta o reencontro de um homem consigo próprio,
na sua mais intensa vocação: para além de um
“catador”, um transfigurador de palavras. Ariscas, elas
se deslocam do terreno da fala cotidiana para ressurgirem no espaço
instável do poema — onde tudo se arrisca, em nome da
beleza. Enquanto quase todos seus colegas de geração
— a da “poesia marginal” — celebravam o
precário, Ventura, dissonantemente, como atesta o título
de um livro seu, efetuava a Reivindicação da eternidade.
No compasso de um discurso abastecido em lições rimbaudianas,
desafiadoramente proclamava: “Eu sou um Deus que canta entre
os rochedos”. Noutro passo, todavia, a voz de Ventura se contrapunha
a uma das mais famosas lições do vate francês:
“Como é fabuloso ser eu, e não o outro”.
O poeta-andarilho, numa viagem iniciada em Ribeirão Preto,
com escala no Rio de Janeiro, constrói e oferta neste livro
sua morada mais sólida. No ponto de partida do adolescente
ou na estação de desembarque do adulto, a mesma transbordante
celebração da Poesia.
Antonio Carlos Secchin
da Academia Brasileira de Letras
Os chamados poetas marginais dos anos
70 não se constituíram em movimento literário,
e muito menos em uma escola dotada de cânones e princípios
estéticos. Ao contrário, opondo-se aos sistemas repressores
políticos (ditadura de 64) ou artísticos, procuraram
colocar a vida vivida da poesia acima e ao lado da letra formal
e formalizante do poema. O poeta Cacaso resumiu essa postura neste
seu poemeto: “Poesia/ eu não te escrevo/eu te/ vivo/
e viva nós!” Um peregrino dessa poesia vivida foi
e é Antonio Ventura. Este livro, que expõe os vários
momentos e faces de sua trajetória de poeta, dá bom
testemunho disso.
Mário Chamie
A poesia de Antonio Ventura nasce de envolvente
simplicidade, não do poeta desatento ao pôr do sol,
mas em gotas de surpresas na forma e nas imagens. Não sei
que cor tem a alma. Ninguém sabe. Esse pastor de nuvens consegue,
porém, colorir de alma todos os seus versos e se transforma
no príncipe das cavalgadas de lágrimas e de sonhos.
É poeta.
Saulo Ramos
Um dos maiores expoentes rimbaudianos
entre nós.
Menalton Braff
Pouco se sabe sobre Antonio Ventura, salvo que
é natural de Ribeirão Preto, onde cresceu e se formou
e é juiz de Direito. Mas, como Rimbaud, "sentou a beleza
nos seus joelhos" e é inevitavelmente poeta, caudaloso,
irreverente, com acento surrealista. Observou alguém que
a biografia de um poeta é seu canto. E este poeta que traz
Ventura consigo, como quem traz a poesia, revela na explosão
de ritmos um sotaque pessoal. Embora caminhe dentro de uma tradição
— a de "ser absolutamente moderno", mantém
inalienável entonação, a marca do que carrega
o fogo de quem se sabe "catador de palavras". E o humilde
ato de apanhá-las carece de um poder que as retira do estado
de silêncio.
Carlos Nejar
da Academia Brasileira de Letras
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