O ALVO MÓVEL E OUTROS CONTOS
Luciano Trigo
“O conto é uma tentativa de fotografar
o sonho e o real”, escreve o autor na nota de apresentação
deste livro. “Tanto um como o outro fazem a vida digna de
ser vivida, na busca incessante para integrá-los, apesar
de serem ambos alvos móveis”. Essa impalpabilidade
das coisas e essa ausência de garantias, próprias da
condição humana, são a matéria-prima
das narrativas curtas reunidas neste livro. Um exemplo é
“Caminhos da vida”, no qual diferentes situações
refletem o absurdo e a fragilidade da existência.
Escritos, guardados e esquecidos ao longo das
décadas de 40 e 50, os textos de Jaime Rotstein nada
sofreram com a passagem do tempo. Ao contrário: como que
envelhecidos em barris de carvalho, parecem ter ficado ainda melhores
em capacidade de envolver e conquistar o leitor. Seu talento para
a ficção, aliás, já tinha se evidenciado
20 anos atrás, quando lançou Nos bastidores da Burilândia,
uma coletânea dos contos publicados semanalmente no Jornal
do Commercio no início dos anos 80, com prefácio de
Austregésilo de Athayde.
Em todas as histórias de O ALVO MÓVEL
chama a atenção a humanidade dos protagonistas, seja
a idosa solitária e alquebrada de “Dona Júlia”,
seja o personagem João Pedro, que, mordido pela mosca azul
da ambição política, cai num conto do vigário
em “Sonho de um 3 de outubro”.
O estilo de Rotstein é simples, sem adornos
nem rebuscamentos inúteis. Talvez sua formação
de engenheiro lhe tenha ensinado a não desperdiçar
as palavras, a empregar a linguagem na justa medida necessária
para contar bem uma história. Com diálogos econômicos
mas sempre inspirados, ele compõe seus enredos com objetividade
e clareza – e os arremata, invariavelmente, com a precisão
que caracteriza os grandes mestres do gênero.
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