FRENTE FRIA E OUTRAS ESTÓRIAS
Adriano Espínola
/ Rio de Janeiro, junho de 2010
Frente fria e outras estórias,
livro de estreia ficcional de Eduardo Junqueira, revela,
sem dúvida, um artista já em pleno domínio
do seu ofício. Escritor de forte vocação narrativa,
sabe como poucos equilibrar-se, nos 25 contos aqui reunidos, entre
a invenção e a memória. Suspeito que, se quisesse,
poderia urdir, sem dificuldade, narrativas mais longas (novela ou
romance), tal o pendor que demonstra para narrar fatos e criar personagens.
Não lhe faltam para tanto poder de observação,
imaginação recriadora das coisas e dos seres, fluência
e riqueza verbal, força expressiva e reflexiva, variação
temática, dialogismo e tensão textual, além
da capacidade de sedução do leitor, entre outras qualidades.
Neste volume, não obstante, de um modo
geral, o grau de literariedade alcançado, algumas estórias
se destacam. “Quase Ricardo Reis”, por exemplo, é
uma recriação saborosa, algo irônica, do heterônimo
de Fernando Pessoa e do personagem de Saramago, aqui representado
pela figura do português Antero, que se mete em aventuras
amorosas e profissionais várias, no seu país, na África
e no Brasil. Em “Edison”, o autor reinventa também
com ironia a vida do ex-jogador Dondinho e de seu filho, que não
chega a ser o famoso Pelé, mas apenas um vibrante ferroviário,
como o pai, além de subverter o resultado histórico
da famosa partida entre Brasil e Uruguai, no final da Copa de 1950.
Cito, ainda, “Fantasma no tribunal”,
antológica narrativa, de clima kafkiano, ao lado de “A
vida como ela deveria ser”, de recorte rodriguiano, também
de ótima fatura literária. Deixo, por fim, ao leitor
o prazer de descobrir outros contos, igualmente surpreendentes,
neste livro de estreia (vitoriosa) de Eduardo Junqueira.
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