A EDUCAÇÃO PELO ABISMO
Poemas escolhidos de ANTONIO VENTURA, por Antonio Carlos Secchin
Frases sobre o autor
(...) o construtivismo de um texto como “Carta-poema para João Cabral de Melo Neto”, onde se lê: “Aprendi com você, João, / que o pássaro é tão mineral / como o pássaro que tento / segurar na folha branca”. Não se pode dizer que Antonio Ventura subscreva aquele conceito de que o poema seja, em suma, uma cosa mentale. Mas o fato é que os versos acima citados o aproximam de Mallarmé, quando, diante da página em branco, confessou-se algo assustado com o que nela deveria escrever: “Sur de vide papier que la blancheur défend”. E sabe-se que, com ele e Valéry, tem início uma das principais correntes da poesia moderna, a que irá desaguar, justamente, em João Cabral. É nela, numa certa medida, que se inscreve o poeta Antonio Ventura.
Ivan Junqueira
Os chamados poetas marginais dos anos 70 não se constituíram em movimentos literários, e muito menos em uma escola dotada de cânones e princípios estéticos. Ao contrário, opondo-se aos sistemas repressores políticos (ditadura de 64) ou artísticos, procuraram colocar a vida vivida da poesia acima e ao lado da letra formal e formalizante do poema. Um peregrino dessa poesia vivida foi e é Antonio Ventura.
Mário Chamie
Antonio Ventura, o que mais me tocou em seus poemas foram aqueles momentos em que o poeta se deslumbra com as coisas da vida, feito uma criança.
Ferreira Gullar
Antonio Ventura sempre foi um poeta diferenciado, desde o início, quando já na adolescência escrevia versos fortíssimos, uma poesia marcante, de asfixia, aquela poesia que vem de dentro do homem, onde o homem deixa residir sua vida, seu poema mais verdadeiro. Esta a poesia de um poeta que compreende a grandeza da poesia e faz da poesia sua própria história.
Álvaro Alves de Faria
Antonio Ventura, poeta, pode-se dizer que cumpre seu ofício de forma exemplar. Porque privilegia antes de tudo a memória para recriar a matéria de seu canto. E o faz valendo-se igualmente da imaginação transfiguradora, tornada eficaz pelo vigor da linguagem.
Adriano Espínola
A poesia de Antonio Ventura nasce de envolvente simplicidade, em gotas de surpresas na forma e nas imagens. Não sei que cor tem a alma. Ninguém sabe. Esse pastor de nuvens consegue, porém, colorir de alma todos os seus versos e se transforma no príncipe das cavalgadas de lágrimas e de sonhos. É poeta.
Saulo Ramos
Antonio Ventura é um dos maiores expoentes rimbaudianos entre nós.
Menalton Braff
A poesia de Antonio Ventura, melhor apreciada e visível agora com esta Antologia primorosa, ao ser lida, continuará na imaginação dos leitores, como a foz de um rio de muitas margens. Poesia carregada de surreal, que reúne devaneio e lágrima, poesia que não se acomoda, tenta ultrapassar a morte. Instiga o leitor com imagens jovens, belas, algumas incandescentes. Como se estivesse em círculo, ou o círculo girasse no poeta que insufla sete firmamentos. Musical, imperioso, singular, “escreve” — como ele próprio vaticina — “com fogo nas pedras onde ficará seu nome”. E se insere entre os importantes criadores da poesia brasileira contemporânea.
Carlos Nejar |