A CIDADE DO RIO GRANDE
Ronald Guimarães Levinsohn
Eis aqui mais um ótimo livro de Willy Cesar, jornalista com forte tendência a historiador, que penso ser sua verdadeira vocação. Este novo A cidade do Rio Grande é obra que vem complementar uma história ainda pouco contada sobre a formação do Sul do Brasil.
A fundação da freguesia do Rio Grande de São Pedro – primeira sede administrativa portuguesa na região Sul, no território onde hoje se situa o estado do Rio Grande do Sul – e seu desenvolvimento até os dias que correm está narrada pelo autor de maneira precisa e pitoresca. Uma pesquisa intensa e profunda, que levou mais de dez anos, fundamenta esse trabalho repleto de informações curiosas e imprescindíveis.
Vivendo longe da cidade desde 1954, me acostumei a ouvir, toda vez que me identifico como natural do Rio Grande, o interlocutor indagar: “De qual cidade?” A confusão que se faz entre os nomes da cidade e do estado é imensa, e só não repetem essa pergunta os moradores de lá.
Meu avô, Jack Levinsohn, esteve em Buenos Aires no início dos 1900, emprestando suas habilidades de engenheiro mecânico junto à empresa que construía o metrô e algumas estradas de ferro na Argentina, à época um dos países mais ricos do mundo e de mais alta renda per capita. Na cidade de Zarate, apaixonou-ser por Juana Carreto de Berthier – filha dos donos do pequeno hotel onde se hospedava – vindo a se casar com ela em Londres, após o final de seu contrato de trabalho.
Na capital inglesa nasceram meu pai e meu tio Douglas. Em face, porém, do agravamento da asma de minha avó, que a impedia de conviver com a fuligem de carvão expelida pelas famosas chaminés londrinas, meu avô se viu obrigado a buscar novo emprego. Com isso, aceitou vir substituir seu conterrâneo, Arthur Small, na empresa Swift da então quase desconhecida cidade do Rio Grande, cujo frigorífico viria a fornecer a carne necessária para lotar os navios que saíam de Buenos Aires, rumo à Inglaterra, só com meia carga, em razão da pouca profundidade do Rio da Prata.
O engenheiro Levinsohn veio para ficar quatro anos em Rio Grande, com contrato para depois seguir para Chicago, nos Estados Unidos, onde continuaria sua carreira na Swift e daria educação em língua inglesa aos três filhos. Mas qual! Pescador apaixonado, Jack Levinsohn aficionou-se pelas pescarias nos molhes da barra e fixou domicílio na cidade – precisamente na terceira casa à direita de quem entrava na rua do Clube de Golfe e Tênis da Swift. Dois de seus filhos se casaram com riograndinos, e seu sobrenome passou a constar do livro Ingleses no Rio Grande do Sul, de F. Riopardense de Macedo.
Anos mais tarde, o ministro Alfredo Valladão, tio avô da Maria Henriqueta, minha mulher, depois de me perguntar onde nasci, descreveu-me em detalhes a história da cidade. É que, quando no Tribunal de Contas da União, ele fora o ministro relator do processo que aprovou o projeto francês e as contas da construção dos molhes da barra do Rio Grande. Era o que faltava para a criação do porto que interligaria a ferrovia Rio Grande-Bagé, inaugurada em 2 de dezembro de 1884. Estava implantado o primeiro porto que tinha entre seus principais produtos de importação arame, sal e máquinas, e entre os de exportação peixe salgado, charque e carnes congeladas produzidas pela Cia. Swift a partir de 1918, além de frutas e pescados enlatados pela Leal, Santos e Cia.
Tudo isso e muito mais encontramos nestas páginas. Autor de outros livros que têm por desígnio a preservação da memória, Willy Cesar agora entrega aos leitores um relato saboroso, mistura de história e jornalismo, sobre a gloriosa cidade do Rio Grande.
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