LÊDO
Antonio Carlos Secchin
Produtivo.
Vinte e seis livros de poesia, seis
de ficção, quinze de ensaio. Tradutor
de Dostoievski e de Rimbaud. Traduzido em cinco idiomas.
Embora, com razão, se considerasse basicamente
poeta, Lêdo foi homem de letras na mais ampla
acepção do termo, praticando com alto
nível e consistência todos os gêneros
literários.
Participativo.
A menos que estivesse ausente do
Rio, Lêdo jamais faltava às palestras das
terças e a nossas sessões das quintas.
Interessava-se por tudo, e sobre cada assunto emitia
um juízo, jamais neutro. Ora apimentada pela
ironia, ora adoçada pelo afeto, sua palavra driblava
as expectativas do lugar-comum. Decifrar Lêdo
Ivo não era missão para principiantes.
Criativo.
Conjugando sua poderosa imaginação
à memória da infância de que nunca
se despediu, Lêdo não experimentou o declínio
da capacidade criadora. Ao contrário, parecia
superar-se a cada livro, como demonstra o fulgor de
seu Réquiem, ilustrado pelo filho Gonçalo,
e publicado aos 84 anos do poeta. À vontade nas
formas fixas ou nas livres, no verso conciso ou no de
amplo fôlego, sentia-se contemporâneo tanto
dos autores medievais em suas cantigas de escárnio,
quanto de escritores que sequer chegaram à casa
dos vinte anos. Daí, num verso célebre,
ter-se definido como “cada vez mais moderno e
mais antigo”.
Nuncupativo.
Esse foi o adjetivo que Manuel Bandeira
desencavou para rimar com o sobrenome do poeta. Sugiro
outro, para designar a imagem que dele guardaremos:
Lêdo, vivo.
Sessão da Saudade
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Rio de Janeiro
10/01/2013 |